segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Por que vivemos em um país inseguro?

Morar em outra cidade... outro país. Conhecer outras culturas e modos de vida, conviver com pessoas que pensam de forma diferente daquela a que você já está acostumado. Experiências como estas fazem com que amadureçamos... fazem com que aprendamos a nos virar em momentos de aperto, e fazem também com que enxerguemos a mundo por outra ótica. Aprendemos a compreender aquilo que não nos é familiar, a apreciar e respeitar o diferente. E também faz com que, ao voltarmos para a nossa realidade, nos questionemos e percebamos que é possível mudar a forma como vivemos – a desafiar nossos costumes e convenções.

Quando eu tinha nove anos, minha mãe resolveu levar minha irmã e eu para conhecer um novo país. Ela queria mostrar para a gente que era possível morar num lugar limpo, seguro e onde as coisas funcionassem bem, diferente daquele caótico Brasil do início dos anos ’90. E lá fomos nós para os EUA.

Desde então, tive o privilégio de conhecer muitos outros países e culturas distintas – entrando em contato com realidades mais duras do que a do nosso país – como na época em que morei na Venezuela, e também vivendo num mundo perfeccionista como no ano que passei na Suíça. Hoje, aos vinte de seis anos, estou passando por uma experiência intensa e que tem me feito questionar muito sobre o nosso modo de vida em São Paulo e tantas outras cidades do Brasil.

Cingapura é um exemplo de país que conseguiu controlar sua criminalidade a níveis próximos de zero – praticamente não há assaltos, assassinatos ou roubos nesta ilha de pouco mais de 6 milhões de habitantes. Regras severas controlam os cidadãos e punem duramente aqueles que saem da linha. Na rua, não se vê um papel sequer – lugar de lixo é no lixo. Às três horas da manhã, você pode caminhar com tranquilidade por qualquer rua mal iluminada da cidade – nada acontecerá com você.

Entendiante? Chato? Pelo contrário. Cingapura tem calor humano, é um país muito receptivo e aberto a estrangeiros de todo o mundo. Caminhando pelas ruas da cidade, você verá restaurantes com suas mesas na calçada e grupos de amigos conversando animadamente. Há templos católicos, budistas e muçulmanos espalhados pelo país, e todos convivem pacificamente entre si. Há carros modernos mas também aqueles mais antigos trafegando pelas ruas, e o colorido asiático pode ser visto nas roupas das pessoas.

Por isto, é tão fácil acostumar-se a um país que reune o melhor dos dois mundos: a civilidade do mundo desenvolvido e a alegria do mundo em desenvolvimento. Uma combinação perfeita!

Ao chegar aqui, muitas pessoas me fizeram perguntas sobre meu país, minha cidade... perguntavam, entre outras coisas, se o Brasil realmente era inseguro como dizem por aí. Minha resposta inicial era negativa, claro. Oras, eu vivo no Brasil desde que nasci, vou pra lá e pra cá, e nada me acontece... claro, é só você saber se cuidar... ‘é só saber se cuidar’... esta frase é incrível, né? Demonstra exatamente que nós já nos acostumamos a viver num estado constante de atenção.

As perguntas continuavam:

- ‘é verdade que você não pode parar o carro no semáforo à noite, com o risco de ser assaltado?’

- ‘é verdade que você não deve sair com relógio ou jóias de casa, com o risco de ‘chamar a atenção’?’

- ‘é verdade que funcionários do Google já foram assaltados perto do escritório?’

- ‘é verdade que algumas pessoas são seqüestradas por algumas horas e ficam presas no porta malas do carro? ‘ (notem que o vocabulário deles não engloba o termo ‘sequestro relâmpago’... já que isto não existe por aqui.

- ‘é verdade que funcionários do Google que visitam o Brasil têm guarda-costas e seguranças?’

Infelizmente, a resposta para todas estas perguntas era positiva – e algumas delas eu posso afirmar por experiência própria... e então, eu me questiono: Será que vivo mesmo numa cidade segura?

É normal eu sair de casa à noite e olhar constantemente ao meu redor para saber se estou sendo seguido?

É normal não querer comprar um celular caro porque tenho medo de chamar atenção de um ladrão?

É normal a gente ficar assustado quando alguém se aproxima do seu carro no cruzamento?

É normal que todos os meus amigos já tenham sido assaltados, ou conheçam alguém próximo que já tenha sido?

Nós nos acostumamos a viver com a violência constante. Achamos que a criminalidade é um problema existente e que só será resolvido com equiparação social, com educação para todos e muitas outras políticas públicas que levam muito tempo para surtirem efeito. Nos eximimos da responsabilidade de lutar contra esta violência, e nos rendemos a ela isolando-nos cada vez mais em nossas bolhas... nossos condomínios fechados, carros blindados, e mundos a salvo de todo e qualquer perigo que sempre está lá na esquina.

Aqui em Cingapura, as pessoas se acostumam com o oposto. Dormem com suas casas abertas, confiam em qualquer estranho que os aborde na rua, deixam suas bolsas e mochila na mesa de uma praça de alimentação para ir buscar sua comida, e andam despreocupados por aí. E então, eles vão para o Brasil, e com aquela cara de turista que têm (pois geralmente estão andando despreocupadamente e admirando nossas belezas) são logo assaltados. E nós prontamente os criticamos: ‘claro, deram bobeira’.

Será que são eles os bobos da história? Ou será que bobos somos nós, que nos acomodamos e não agimos de forma efetiva contra este que é, na minha opinião, um dos problemas mais sérios que enfrentamos hoje. Mais ainda do que o trânsito (apesar de ele parecer mais grave, pois nos afeta diariamente).

Hoje, quando me perguntam se o Brasil é um país seguro, respondo que não é seguro como Cingapura... confesso que são meias palavras. Uma forma leve de admitir que o Brasil é sim um país em que a criminialidade não é combatida de forma séria e efetiva, mas fazendo que o problema soe menos grave do que é realmente. Mas sei que vivemos em uma sociedade em que há um sentimento constante de alerta e na qual ninguém está salvo de uma fatalidade.

Por isto eu recomendo a todos os leitores que se questionem e tomem contato com outros exemplos de vida em sociedade onde esta violência toda não esteja tão presente. É possível sim vivermos em uma cidade mais segura e menos assustadora, mas isto envolve o esforço de cada um de nós, votando conscientemente, questionando os nossos próprios estados de conformismo e tomando atitudes que diminuam a violência ao invés de apenas protegermo-nos dela.

Finalizo o texto com um aperto do peito e com meus olhos marejados, me sentindo triste por chegar à conclusão que eu me acostumei a viver numa cidade que pode ser tão violenta como São Paulo e por ter negado esta violência por tanto tempo. Mas não me sinto intimidado de voltar para lá no mês que vem... continuo amando meu país e suas inúmeras qualidade, e sei que tenho um papel de despertar em outros brasileiros que se conformaram com a violência o sentimento de que é possível sim nos tornarmos um país ainda mais maravilhoso e controlarmos de forma efetiva o problema sério da criminalidade em nossa sociedade.

Um comentário:

  1. Vc diz que continua amando o seu país e suas inúmeras qualidades... depois de tudo que falou acho vc deu um tom contraditório ao discurso. De facto este país tem jeito. Se fizerem aqui o que fizeram em Cingapura. Mas quando farão isso por aqui? Um país onde um adolescente de 17 anos, mata, estupra, sequestra, arrasa com as famílias e é levado para uma tal "fundação casa"... Fundação Casa da Mãe Joana... Bandidos que podem votar para eleger um presidente e deputados corruptos, mas que não podem imputar-lhe culpa e punição exemplar. Um país que estimula a vadiagem punindo pais que colocam os seus filhos para trabalhar, e professores que querem ser mais duros com alunos "folgados". Trabalho desde os meus 6 anos de idade, e fui, como devia ser, educado por professores que ensinaram com rigor e displina, por isso sou o que hoje sou. Enfim... se eu for colocar aqui o que penso sobre este país... haja espaço e tempo para explicar porque estou me mudando de vez para a Europa no final deste mês. Boa sorte para quem fica nesta balbúrdia. Um abraço!!!

    ResponderExcluir