terça-feira, 4 de agosto de 2009

Reencontro - de volta à Indonésia

Na última sexta-feira, peguei um avião com destino à Ilha de Java. Após uma hora e meia de vôo, lá estava eu – chegando em Jakarta, a capital da Indonésia. Cidade populosa – uma das maiores do mundo, com mais de 20 milhões de habitantes, no maior país muçulmano do mundo. Uma cidade caótica, de trânsito pesado e repleta de shopping centers onde os habitantes costumam passar seu tempo livre. Além disto, uma cidade com pessoas tão incríveis e acolhedoras que me proporcionaram um dos melhores finais de semana dos últimos tempos.

Há doze anos, passei um mês vivendo com uma família indonésia lá em Jakarta. Era parte de um programa de intercâmbio do CISV, no qual eu recebi um ‘irmão indonésio’ por um mês na minha casa, e após um ano passei um mês em sua casa, junto com sua família. Foi um mês incrível, para um jovem de 14 anos conhecer uma realidade tão diferente da nossa, foi até mesmo chocante. O programa era realizado em um grupo de 8 jovens brasileiros e 8 jovens indonésios – cada um com seu respectivo ‘irmão’ – além de um líder responsável por cada delegação (maior de idade). Conviver com um cidadão local fez com que apreciássemos a beleza e as delícias de se morar em uma cidade tão assustadora quando vista pelos olhos de um estrangeiro.

E então, após doze anos em que eu mal conversei com meu ‘irmão Indonésio’, lá fui eu visitar o Dipa e saber o que tinha mudado em sua vida. O plano para o fim de semana? Nada em especial – acompanhá-lo em seu dia a dia e também encontrar o restante dos indonésios que conheci naquela época. Sabia que muita coisa tinha mudado – os pais do Dipa faleceram em 2001, um seguido do outro, sucumbindo a distintos cânceres. Ficaram apenas ele e sua irmã Desi, que após finalizarem os estudos em Melbourne, voltaram para a capital indonésia para tocarem os negócios da família – uma indústria de alimentos. Também sabia que o Dipa estava casado, assim como a Desi – sua irmã. E ao conversar com ele no telefone combinando sobre a viagem, ele me disse também que seria papai em breve. Imaginem vocês, por tabela eu vou ser titio!

Na chegada em Jakarta, lá estavam o Dipa e a Judith, sua esposa. Ambos notamos as mudanças após doze anos de distância – muitos quilos a mais, uma aparência adulta (claro, éramos adolescentes) e o mesmo rosto! Nos reconhecemos de cara e demos um forte abraço. Na saída do aeroporto, começamos a epopeia gastronômica por Jakarta. Fomos a um restaurante de rua (conceito equivalente a um boteco ‘copo sujo’ em São Paulo, mas onde se serve comida), e comemos noodles fritos, provenientes do norte da Sumatra. Apetitoso! Seguimos para o apartamento do Dipa e da Judith, que fica numa torre em cima de um shopping center – algo que está se tornando comum em Jakarta e que já existe há bastante tempo por lá.

Após um pouco mais de papo, estávamos exaustos e fomos para a cama – o plano para o dia seguinte já estava completo. Levantamos às nove horas, e descemos ao shopping para um reforçado café da manhã: Dim Sum (Hong Kong style) com direito a provar um dos dumplings que eram pés de galinhas. Adorei provar a especiaria, que não tem um gosto específico – você sente o molho muito forte, mas a textura é interessante e há pequenos ossinhos minúsculos que se perdem em sua boca. Seguimos para uma loja de batik no shopping, onde comprei alguns lindos panos indonésios e também uma calça de batik para mim. De lá, seguimos para uma feira de bebês e mamães, já que a Judith está em seu 5º mês de gravidez e queria visitar a feira. O irmão e a irmã mais novos da Judith vieram conosco, e passamos pouco mais de uma hora por lá. Seguimos para um outro shopping center para almoçar no restaurante da família da Judith – comi uma sopa de curry com frango deliciosa, e demos mais uma volta. Os shoppings em Jakarta são realmente a grande atração da cidade – pois recriam o mundo exterior no conforto do ar condicionado e segurança do shopping. Modernos e com muita cenografia, não me lembram os shoppings lotados e apertados de Sampa.

À noite, seguimos para um terceiro shopping, onde tínhamos marcado um jantar típico indonésio com todos os indonésios que participaram do intercâmbio há 12 anos. Éramos 9 no total, e destes todos, apenas uma garota não pôde comparecer, pois mudou-se de cidade. Foi uma noite incrível, de reencontros, surpresas, lembranças, atualizações e apresentações. Eles também não se viam entre si havia muito tempo, e alguns já estavam casados, com filhos, etc... foi uma noite muito especial, em que percebi que até mesmo a distância e a falta de contato durante doze anos não quebram a amizade sincera e sólida que contruímos ao longo dos dois meses que passamos juntos – em 1996 e 1997. Dois meses intensos de aprendizado e crescimento, de convivência e respeito com o diferente. Certamente, uma experiência que me marcou e que em muito contribuiu para que eu quisesse hoje voltar ao Sudeste Asiático.

À noite, ainda vi as fotos do casamento do Dipa, e fomos para a cama após um dia cheio – pois a programação do dia seguinte já estava novamente cheia. Levantamo-nos bem cedinho, lá pelas 7:30h, e após tomar meu banho e fazer minhas malas, fomos direto para a igreja. Apesar de a Indonésia ser um país majoritariamente muçulmano, o Dipa e sua mulher são católicos – também em função de sua ascendência chinesa. Achei ótimo, pois é sempre interessante assistir a missas em outros idiomas, em outros países. Como a missa católica é muito similar ao redor do mundo inteiro, não boiei completamente, e achei até interessante ver uma missa falada em Bahasa-Indonésio. Bem em frente à Catedral a que fomos, fica uma imensa mesquita. E lá fomos nós conhecer o templo, já que estava tão próximo. Fizemos uma rápida visita guiada, mas que nos mostrou o interior da terceira maior mesquita do mundo – atrás apenas da construida em Mecca e outra em Medina. Incrível ver a construção e a sala de orações, com setas apontando para Mecca, mas mais legal ainda foi ver católicos e muçulmanos convivendo frente a frente, em paz.

A próxima parada foi o Monumento Nacional, um obelisco construido como marco da independência da Indonésia, que livrou-se do domínio holandês em 1945. Cheio de turista locais, que vêm dos arredores de Jakarta para aproveitar o domingo no monumento, ficamos lá por uma hora e tiramos algumas belas fotos – para então seguirmos a um restaurante onde almoçamos novamente comidas típicas do país. Arroz vermelho, frango, e vários outros pratinhos com temperos, cores e sabores diferentes – que comemos com colher e garfo (aqui não se usa palitinho quase). Uma delícia. E o mais bacana foi que praticamente todos os meus amigos indonésios estavam novamente presentes, para despedirem-se de mim. Foi emocionante. Fiquei muito feliz também por rever a minha ‘irmã’ indonésia, a Desi – irmão do Dipa – que apareceu por lá com seu marido, um holandês. Conversamos bastante e pusemos as notícias em dia. De lá, fui diretamente ao aeroporto para pegar meu avião de volta a Cingapura.

Na bagagem, além de diversos presentes para mim e para a minha família brasileira (de diferentes amigos) e uma sensação incrível de conforto e alegria por ter tido o privilégio de rever amigos tão queridos, e que me receberão tão bem.

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